segunda-feira, 7 de julho de 2008

O BONDE EM PIRACICABA

A origem da palavra ‘bonde’ está no título da dívida pública, bônus, letra e ação.
Quando da formação da companhia de carros elétricos, no Rio de Janeiro, lançaram à venda “bonds”. O povo deu ao carro elétrico caucionado o nome da própria caução. As primeiras linhas de bonde, com tração animal, foram implantadas nos Estados Unidos, em Nova York, em 1823. Na Europa, a França foi a pioneira, em 1830, com a linha que ia de Montrond até Montbrison. Em 26 de março de 1859, foi inaugurada no Rio de Janeiro a primeira linha de bonde a tração animal.
No dia 12 de outubro de 1872, foi iniciado o serviço de bondes puxados a burro em São Paulo, entre o centro e a Estação da Luz. A primeira linha de bonde elétrico explorada comercialmente entrou em funcionamento em 1881, na Alemanha, em Lichterfelde. No Brasil, a inauguração do bonde elétrico aconteceu no Rio de Janeiro pela Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Em 7 de maio de 1890, foi implantado em São Paulo o serviço de bondes elétricos. A partir dos anos 20, os bondes quase mobilizaram o transporte coletivo urbano nas grandes cidades.
PIRACICABAOs bondes incorporam-se ao panorama da Noiva da Colina em 1916. Em 1915, a Câmara Municipal firmou um contrato com “The Southern Brazil Eletric Co. Ltd.”, concessionária da iluminação pública para a instalação de três linhas de bondes elétricos, com direito de exploração por 30 anos. A primeira para a Escola Agrícola, a segunda para a Vila Rezende e a terceira até a Paulista. A inauguração aconteceu em 16 de janeiro de 1916, com a primeira linha de bonde elétrico para a Escola Agrícola. O ponto de partida era ao lado da Igreja Matriz e o veículo chegava a 50 km/hora.
Domingo, dia ensolarado. Ao meio-dia tem início a sessão solene presidida por Torquato da Silva Leitão e secretariada pelo vereador Arthur Vaz, com a presença do prefeito Antônio Correa Ferraz, entre outras autoridades locais, representantes consulares, serventuários da Justiça, diretores de escolas, imprensa e convidados especiais. Aberto os trabalhos, foi declarado que o fim profícuo daquele ato oficial era inaugurar a implantação do bonde, como meio moderno de transporte coletivo urbano.
A palavra da comunidade coube ao doutor Sebastião Nogueira de Lima. O jornal A Gazeta de Piracicaba, no dia 18 de janeiro de 1916 dando-lhe crédito, narra: “Levantou-se então o aplaudido orador, provecto advogado do foro piracicabano, de que é um dos melhores ornamentos, o senhor doutor Sebastião Nogueira de Lima”. O orador em eloqüentes palavras saudou Piracicaba e seu povo, e em nome dele agradeceu à Câmara, sua legítima representante.
Uma vibrante salva de palmas acolheu a última frase do magnífico tribuno. A seguir foi suspensa a sessão, pelo tempo necessário à lavratura da ata, logo em seguida lida pelo senhor doutor Barros Penteado e assinada por todo os presentes. As autoridades, acompanhadas pelos convidados, dirigiram-se ao Largo da Matriz, onde tomaram lugar no bonde para a primeira viagem. O motorneiro Júlio Antonio Gonçalves, em uniforme cáqui, botões dourados, quepe na cabeça, cheio de orgulho, com largo sorriso nos lábios, impulsionou com os pés a campainha, e o bonde partiu rumo à Escola Agrícola.
Uma banda de música abrilhantou o ato inaugural na Câmara e no Largo da Matriz. Conta o jornal A Gazeta de Piracicaba que na saída dos primeiros bondes, vindos da garagem, ao entrarem na Praça, “a multidão compacta que ali se apinhava, rompeu em vivas e palmas de entusiasmo”.
Findas a festividades inaugurais, o bonde continuou a trafegar sem interrupção, sempre lotado até à meia noite, para gozo da população. A segunda linha à Vila Rezende só entrou em operação em 1921, e a terceira só chegou até a Estação da Paulista. Durante a II Guerra Mundial, com a falta de gasolina, o bonde foi altamente privilegiado pela população. Em 1945, ao término das hostilidades, cinco carros e um reboque trafegaram pelos oito quilômetros de linha.
No ano de 1950, o serviço passou para a responsabilidade da Prefeitura, devido às dificuldades na importação de peças de reposição, e o desenvolvimento do transporte coletivo pelos ônibus. Em 1969, finalmente a única linha em funcionamento que servia a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” foi desativada.

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